segunda-feira, 5 de agosto de 2013

O caminho para Nós Outros: um documentário experimental.

O processo de gravação do documentário Nós Outros foi realizado cruzando a fronteira com as artes plásticas, tornando-se mais próximo de um projeto de investigação criativa e intervenção performática do que propriamente da produção de um filme.

Partindo de um dispositivo – um recurso comum ao documentário e outras artes, nossa proposta era levar objetos pessoais de  uma pessoa a outra, de um lugar a outro. Cada pessoa que recebia o presente era convidada a entrar no jogo, manufaturar um novo objeto e, através de nossa pequena equipe, enviá-lo a alguém que vivesse dentro do território latino americano, determinando assim o destino de nossa viagem. Desse modo, iniciamos uma rede de conexões e intercâmbios, de trocas simbólicas entre pessoas e lugares. Nem todas as pessoas que participaram do jogo transformaram-se em personagens de nosso filme, porém, todas foram fundamentais para criarem o roteiro, imprevisto e aleatório, da jornada. Somando-se à esse dispositivo, nos propusemos outro desafio: realizar uma intervenção no espaço público de cada lugar onde deveríamos entregar o presente. Algumas vezes, quem recebia o objeto também se envolvia na ação, trazendo seu universo de questões e seus talentos; em outras situações, tratávamos, nós mesmos de elaborar um “evento” plástico, sonoro ou performático para “trocar” com o espaço, de modo que pudéssemos nos inserir nos contextos que atravessávamos, rompendo a relação distanciada de observadores em trânsito – condição imposta pela limitação de tempo de estadia em cada lugar. As performances foram únicas e efêmeras, algumas interativas – como a que abre o filme, na Praça da Sé, em São Paulo; outras completamente anônimas e sem “público ao vivo”, como a dança de onde nascem as nuvens, no inicio da Cordilheira dos Andes, na Venezuela. Somente algumas das intervenções realizadas entraram no filme, não porque tenham dado certo ou errado, mas, sim, por conta do seu caráter cinematográfico, ou seja, da nossa capacidade de filmá-las.

É desses dois experimentos – a entrega dos presentes e as intervenções locais – que geramos “Nós Outros”. Do filme, entretanto, resultou outra obra (um produto) em si mesmo, e não mais a gravação do que experimentávamos: nossa intenção não era fazer um making off  do processo, tampouco um “roadmovie metalinguístico”, mas deixar-nos atravessar pelas trocas, pelo improviso da experiência, pelos próprios limites entre o que é “vivenciável” e o “filmável”, chegando mesmo ao limite do desespero, frente ao descontrole de todo  este processo.

O caminho por fim só pôde ser encontrado  na montagem -- e depois de um longo período de pesquisa de roteiro de montagem. E quando um novo elemento – já pensado desde a elaboração do projeto – entrou em cena: a memória. O fluxo de conexões e relações entre a história da realizadora, o background de referências da equipe do filme, ativados durante ou depois da jornada; os registros políticos e simbólicos evocados pelas experiências e as trocas com as pessoas que cruzaram e inseminaram nosso caminho. 

Trata-se por tudo isso de um documentário experimental. Isso não lhe atribui qualidade nenhuma à priori, e creio nenhum defeito de antemão. Mas ele pede sim, do espectador,  certa disponibilidade extra, uma abertura generosa– que filmes bem construídos, seguindo uma narrativa “transparente”, sob o encadeamento da contiguidade espaço-temporal e uma lógica cartesiana, à qual estamos acostumados, podem dispensar. “Nós Outros”, sob vários aspectos, necessita de troca. É um filme, citando o poema do amigo Sergio Cohn, feito de “saltos e sustos”, um remixe, uma colagem aberta, um convite a viagem pessoal de cada um. 

Por isso, nada mais importante do que poder apresentá-lo, após seu longo processo de finalização, e receber com a mesma abertura generosa que o filme pede, do público as criticas e impressões. O centro cultural B_arco nos possibilita uma projeção extra oficial, uma “cabine aberta” antes da exibição pública do filme.



Marina Weis
Realizadora audiovisual


sábado, 21 de maio de 2011

Segredo



Chow Mo-wan: In the old days, if someone had a secret they didn't want to share... you know what they did?
Ah Ping: Have no idea.
Chow Mo-wan: They went up a mountain, found a tree, carved a hole in it, and whispered the secret into the hole. Then they covered it with mud. And leave the secret there forever.
Ah Ping: What a pain! I'd just go to get laid.
Chow Mo-wan: Not everyone's like you.

Transeconomia Real


Marcelo Cidade, 2007